Opinião

A profissão que me cativou

Por Evoti Leal
Barbeiro e escritor

Minha saudosa sogra, Deloá, como era conhecida (Delna, o seu nome de registro), era manicure de um salão tradicional de Pelotas, que, até meados da década de 1980 tinha a característica de atender a um público eminentemente masculino. Era o Salão Pará, situado, àquele tempo, n rua Sete de Setembro, entre 15 e Anchieta, quase ao lado do tradicional Café Aquários.
No ano de 1984, morando na Cohab Tablada, ao ser demitido da empresa de transportes onde era escriturário, fui agraciado com uma pergunta que ela me fez, meio à queima roupa: - "Queres aprender a profissão de barbeiro?"

Não levei três segundos para responder: - "Se tiver quem me ensine, eu topo".

Nunca soube antes o que era pegar numa tesoura, a não ser para cortar papel. Fazia minha barba com um aparelhinho tipo "Prestobarba".

Ela me disse, então: - "Amanhã vou falar com o Orlando. Ele já ensinou a profissão a pelo menos uns cinco".

Referia-se ao proprietário do Salão Pará, Orlando Volcão, em sociedade com seu irmão Ari Fernando.

Dia seguinte, fui chamado a conversar com meu "futuro mestre", a quem, até aquele momento, só conhecia de vista.

Aprendi com ele o básico e muito mais dessa atividade, sendo, logo mais, convidado a exercê-la ali mesmo, naquele estabelecimento. Oito anos depois, abri o meu próprio salão, em casa, atuando solo.

Aprendi, desde o início, que para ser um bom profissional de qualquer área afim à de cabeleireiro, a pessoa tem que preencher alguns requisitos indispensáveis: ser educada, gentil, cordial, alegre, discreta, dotada de paciência, serenidade, sobriedade, descontração moderada e, sobretudo, senso ético, além de, logicamente, ter domínio técnico, tanto quanto emocional.Par

a conquistar uma clientela, cativando e fidelizando seus clientes, quanto possível, o profissional terá que apresentar este pacote completo, seja ele proprietário, sócio ou parceiro, atuando em um salão chique (requintado), ou modesto (simples), de acordo com a sua história de vida, suas condições iniciais (capacidade de investimento), sua personalidade, seus anseios e ambições, sua resiliência e capacidade de superação frente às dificuldades que se interponham em sua trajetória.

Hoje, contando-me entre os muitos companheiros aposentados que ainda exercem a atividade, quero prestar minha homenagem a todos os colegas, entre os quais possuo inúmeros amigos.

Percebo estar no DNA da grande maioria deles, todos aqueles predicados de que falei há pouco.

Agora, mais livre, atendendo a domicílio e em hospitais, por agendamento, e voltando a participar do quadro diretivo da Associação Profissional, Cultural e Recreativa dos Cabeleireiros de Pelotas (Acapel), tenho visitado vários salões da cidade e conversado com vários colegas, observando o quanto são simpáticos e amistosos, todos, despidos do espírito de concorrência, embora cada qual tenha o seu próprio diferencial, utilizado na conquista e preservação da sua clientela.

O que mais me cativa é este viés de companheirismo, ao invés da cultura de uma rivalidade tóxica.

Tudo isso me faz admirar ainda mais esta profissão, sendo eternamente grato àquela pessoa que me introduziu neste meio, àquele amigão que me guiou os primeiros passos, e a tantos outros que me ajudaram a crescer profissionalmente.
Aos que ainda vivem e aos que já partiram, minhas melhores vibrações, desejando-lhes, onde estão, ou estiverem, muita paz e as mais ricas bênçãos com que o universo lhes possa agraciar.

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